Treinar a Mente

Aprender e melhorar algo que queremos desenvolver implica necessariamente conhecer o que existe, treinar, experimentar e saber as regras para poder quebrá-las. Fazer só "por fazer", sem reflectir sobre isso, nunca nos permitirá crescer como devíamos e desenvolver as nossas capacidades. O mesmo se aplica ao nosso crescimento como pessoa.

Passamos tanto tempo com a cabeça colada ao ecrã do telemóvel, que nos esquecemos de olhar para cima. Gastamos tanto em roupas e tretas que usamos uma vez para nunca mais pegar, e a seguir dizemos que a Cultura é cara e que não há dinheiro para bilhetes ou livros. Não é verdade, tudo é uma questão de prioridades (quando a corda não nos está no pescoço, claro).



Sem arte, sem sensações, sem imaginação, seríamos apenas máquinas. Essa não é uma vida que eu queira viver. A fotografia, teatro, literatura, cinema, e qualquer outra forma de arte trazem à superfície aquilo que verdadeiramente nos distingue como seres humanos: a nossa capacidade de interpretar e imaginar, de ver o belo e as histórias no meio de algo que pode ser interpretado de mil formas diferentes se for visto por mil pessoas diferentes.

E, por isso, tenho feito o esforço consciente de me deixar contagiar pelo que é posto à minha disposição: dar prioridade àquilo que verdadeiramente me enriquece. Exposições, livros, filmes, lugares, conteúdos online que têm algo a acrescentar àquilo que sou. Não quero, de forma nenhuma, armar-me em supra-sumo da cultura e da arte - estou bem longe disso. Mas há algo neste tipo de experiência que, num mundo em que o imediatismo e o óbvio são o que mais vende, nos torna melhores pessoas - mais pessoas.




Se quero treinar a minha fotografia, tenho que treinar o meu olhar. Chega de ficar dentro da minha bolha: quero procurar referências, deixar os horizontes crescer, apreciar o que me faz notar alguma imagem como especial e perceber a beleza nela - e, talvez, conseguir transportar isso para as minhas próprias imagens.




E, assim sendo, uma das formas que tenho adoptado para alargar as minhas perspectivas tem sido aproveitar as exposições de fotografia que a Alfândega do Porto tem tido - o ano passado, a que nos mostrou os trabalhos do Steve McCurry, e, já este ano, a que nos mostra os retratos captados por Henry Cartier-Bresson - que pode ser visitada até 12 de Abril de 2020.

De Steve McCurry trouxe a cor, o captar do momento, a sensação de que toda a gente e todas as gentes têm uma história para contar e a certeza de que o mundo é muito mais diverso do que aquilo que eu possa imaginar. Bem sei que esta exposição já não está em exibição, mas caso algo semelhante se repita é uma experiência que aconselho a tod@s - fotógrafos ou não.




Já de Henry Cartier-Bresson, confesso, não tirei tanto quanto queria - talvez por, mesmo sabendo que a exposição era sobre os seus retratos, ter a esperança de que a sua vertente mais famosa da fotografia de rua estivesse mais presente. Ainda assim, o olhar genuíno com que cada um dos modelos nos olha nas suas imagens deixa-me a sonhar com o dia em que conseguirei fotografar como se de uma conversa se tratasse.




Deixo ainda uma palavra de apreço ao fotógrafo André Boto, que tinha em exposição algumas imagens criadas com inspiração na passagem de Henry Cartier-Bresson pelo Porto que me deixaram fascinada pela técnica utilizada e pelo efeito produzido com ela. A investigar!

Não sei se esta minha onda de me encher de cultura se vai manter, mas o que é certo é que me tenho sentido muito mais "eu", mais inspirada, mais feliz com as minhas decisões desde que me comecei a "obrigar" a consumir mais Cultura, seja ela em forma de cinema, teatro, fotografia, exposições ou literatura. Ainda só passaram dois meses em 2020 e já sinto que já conheci mais histórias do que em todo o ano de 2019. E caramba, isso sabe mesmo bem!


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