Fórum de Ideias | Europa: Cautelosa ou Xenófoba?

O Mundo está virado do avesso, e as notícias que vemos todos os dias nos meios de comunicação e nas redes sociais não nos deixam dizer o contrário. Ainda assim importa sabermos o que realmente se passa e sim, conhecer os dois lados da moeda. A meu ver, uma opinião informada, mesmo que com dúvidas à mistura, vale bem mais do que certezas cegas, sem bases, sem factos.


Não consigo acreditar que as pessoas são todas iguais, muito menos que têm todas as mesmas crenças, valores, e formas de agir, e é impensável todas as pessoas serem "más".

Posto isto, esta crise no Médio Oriente tem revelado mais sobre quem eu julgava que conhecia minimamente bem do que propriamente sobre o mundo. Todos sabemos que existem extremistas e pessoas capazes de matar - seja por ideias, por crenças, por dinheiro, por poder ou simplesmente por maldade. E todos sabemos que há pessoas inocentes apanhadas no fogo cruzado. E é claro que por uma pessoa gostar ou acreditar em A não implica que siga tudo o que A diz à risca e desate a matar todos os que gostam ou acreditam em B. Se assim fosse, era impossível construir qualquer tipo de sociedade.



O que nem todos sabíamos era que "metade" das pessoas que conhecemos prefere manter os seus olhos limpos de miséria e prefere fazer de conta que está tudo bem, a reconhecer que há inocentes a precisar de ajuda, que apenas não quer dar porque...eles não pagam impostos aqui?! O que são 1.000 pessoas em 10.000.000? Se cada um de nós ajudar com uma migalha que seja, não vão ser precisos os nossos impostos para coisa nenhuma - esses bem que podem ser usados para quem já está por cá a precisar de ajuda há muito tempo, mas isso são outros quinhentos... Bem sei que a situação pode ser bem mais complicada do que isto a nível económico e social, especialmente nos países "alvo", mas julgo que está nas nossas mãos (e dos governos) aguentar o barco até haver de novo condições nos países de origem ou até todas estas pessoas se instalarem e conseguirem começar a contribuir tal como os restantes europeus.

A outra razão que vejo para não querer ajudar pessoas com uma cultura diferente da nossa é demasiado vil para entrar na minha cabeça dura, talvez. A diferença não é motivo de descriminação. A diferença deve ser interpretada com a necessária precaução contra o choque de culturas, óbvio, mas não é motivo para deixar ninguém do lado de fora de "civilização". Viktor Orbán (Primeiro Ministro húngaro) é o expoente máximo da desgraça em que está a nossa Europa. Como diz Nuno Saraiva neste artigo, com o qual concordo, é verdadeiramente vergonhoso que sejam ditas e feitas coisas das quais o próprio Hitler se orgulharia, e...nada, nada de reacção da nossa tão solidária e humana União Europeia.

Sim, provavelmente há infiltrados do EI no meio dos refugiados. Sim, provavelmente uma parte dos muçulmanos que entra agora na Europa vê uma mulher de mini-saia e acha que ela devia levar uma estalada na cara. Sim, sim, sim. Eu sei disso. E não, não acho isso óptimo. Ainda assim, não é por isso que acho que todos devem ser deixados ao abandono. Não é por isso que devemos fechar os olhos aos afogamentos, aos campos de refugiados sem condições, às balas de borracha húngaras (e sabe-se lá se não virá pior). O ser humano adapta-se, muda. E as mudanças podem ser para melhor.


O pior inimigo da razão é o medo. Eu também tenho medo do desconhecido, tenho mesmo. Tenho medo de estar com este discurso todo "para a frente é que é caminho" e daqui a uns meses ouvir uns "eu bem disse" de quem agora digo que está a ter um discurso xenófobo. É normal ter medo. E fica sempre tanto por dizer, tantos pontos de vista a considerar, tantos "se's" por colocar. Bem sei. Mas importa ter também empatia, e acima de tudo racionalidade para lidar com uma situação sensível - para "eles" e para "nós".


A questão é: Eles e Nós, ou só Humanidade?



6 comentários :

  1. Sabes, ando ás voltas para expressar o que tu tão bem escreveste, mas ainda não o consegui pôr cá fora. No fundo tudo se resume à ultima questão. O medo, não existe para nos isolar ou para isolar os outros, mas sim para nos manter alerta.

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    1. Parece que comentar atrás de um computador quando há gente a sofrer na pele é tão pouco...mas tens razão, o medo é isso, é mesmo isso!

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  2. Também vi esse vídeo e achei óptimo para compreender um pouco mais esta situação. Eu compreendo que hajam receios, mas eles nunca podem ser maiores do que a vontade de ajudar, porque é impossível não pensar "e se fosse eu?". E para além de tudo isto, acho sinceramente que o mais urgente é mesmo tentar travar a guerra na Síria, ir ao cerne da questão e tratá-la na sua origem, caso contrário não haverá mundo para onde fugir.
    Tendo em conta que tive 3 meses a viver em Budapeste sinceramente nada disto me surpreende, porque até eu me cheguei a sentir lá discriminada por ser estrangeira, e a personalidade deles é assim mesmo, rude e fria. Ainda assim tenho muita pena que um país como o deles que já sofreu na pele o drama da guerra não tenha sido capaz de aprender a dar a mão aos que mais precisam e que se tenha apagado da memória tudo o que sofreram.

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    1. Concordo plenamente contigo, em tudo. O "e se fosse eu?", pelo menos isso, devia ser capaz de criar empatia, mas nem assim...mas sim, também acho que neste caso a intervenção internacional na situação era urgente. Mas aparentemente não há grande interesse nisso, o que é lamentável!

      Custa-me mesmo perceber como é que um país que já foi fonte de refugiados consegue assumir uma postura destas. Mas se é como dizes...mentalidades. É tão triste...

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  3. Gostei querida, já estou a seguir, dá uma visita pelo meu vais gostar e caso aconteça segue de volta, aqui fica www.69voltas.blogspot.pt , e continua assim que é esse o espírito beijo grande

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