Wabi-Sabi: A Arte da Imperfeição

Quero que cada palavra seja bem escolhida enquanto aqui escrevo. Perco-me nos regressos, e tirar o pó a algo que nos é querido é sempre feito com muito cuidado para não estragar nada do que está por baixo e de que possamos não nos lembrar - pior ainda quando é algo que queremos mostrar ao mundo e não deixar só para nós. Há um bichinho qualquer a moer-me o juízo e a dizer "mas que raio tens tu para acrescentar agora?" e eu esforço-me por lhe responder "olha, não sei, mas quero e posso fazê-lo, e pode ser que acrescente algo a alguém.".

E, portanto, escrevo. Sopro com força e tiro o pó ao blog e aos meus dedos que já não sabem o que é vir aqui parar há uns meses largos. Desculpem a ausência, se é que foi sentida. Ou se calhar só eu é que senti, não sei, é provável.  De qualquer forma, cá fica: não é perfeito, mas é um regresso.

E querendo falar de regressos e de já não saber fazer nada disto, e de querer que seja perfeito, mas sabendo que não o será, repesquei um tema que estava pelos rascunhos há muito - demasiado - tempo: Wabi-Sabi. A Arte da Imperfeição.

O Jamie Windsor desafia-me a cada vídeo que publica. É um fotógrafo com laivos de filósofo que me deixa sempre a querer saber, ser, ver e pensar mais. E neste em específico fala-nos de Nan Goldin, Tod Hido, Baud Postma e Wabi-Sabi, numa abordagem muito interessante de um conceito que desconhecia - mas que faz todo o sentido.


Wabi-Sabi
Nada é permanente
Nada está terminado
Nada é perfeito

Juntando estes princípios, chegamos à Imperfeição. A Imperfeição gera Individualidade. A Individualidade gera Valor. O Wabi-Sabi não consiste na defesa de que não há problema em haver erros - procura o erro como forma de enriquecer o que é criado. Propositadamente.

Talvez seja uma forma mais realista de ver o mundo. A técnica, a procura da perfeição, a capacidade de criar um objecto perfeito são ferramentas importantíssimas - até para que saibamos quais as regras a quebrar-, mas quantas vezes nos esquecemos de trazer para o processo criativo aquilo que é a realidade - imperfeita -?

Acrescenta-se assim uma camada adicional ao que criamos. Seja na fotografia, na escrita, na música, ou em qualquer outra forma de expressão. Nan Goldin criava imagens propositadamente desfocadas e, diria, brutas; Tod Hido mostra-nos paisagens etéreas através da janela do carro; Baud Postma cria imagens subexpostas que nos mostram o ambiente e não o detalhe do que é fotografado. José Saramago quebrava todas as regras de escrita e pontuação para nos levar pelas histórias aos ritmo que pretendia. Grande parte das bandas que ouvimos têm vocalistas que, não sendo tecnicamente perfeitos, conseguem transmitir uma série de sentimentos com a sua música.

A fotografia não é a realidade. É uma interpretação da realidade. E o mesmo se passa com tudo o que criamos com o intuito de representar o mundo em que vivemos ou o que nos passa pela cabeça.

Deixo a pergunta: em qualquer forma de expressão, o que vos diz mais - a perfeição técnica ou a emoção e história que conta? Ambas são possíveis em simultâneo, ou ambas podem estar completamente ausentes - não se trata obrigatoriamente de um "só pode ter uma delas"-, mas no que é que nos focamos mais?


4 comentários :

  1. Quanto mais perfeito tecnicamente algo é, mais artificial me parece. O que é genuíno, instantâneo não é perfeito, é apenas um rascunho, mas é sempre muito mais bonito. Quantas vezes nos surge uma ideia na mente, um rascunho cheio de imperfeições, e quando o tentamos passar para o papel ou o que quer que seja tentamos tanto que fique bem que acabamos por abandonar a ideia? Todos os dias me convenço mais de que a perfeição não existe e que é nos detalhes mais imperfeitos que se esconde a beleza das coisas.

    Excelente post! Obrigada por voltares (eu dei pela tua falta!)
    https://inescm2.blogspot.com/

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    1. Sim, concordo plenamente contigo: se queremos contar a verdade, a imperfeição faz parte. Os objecto perfeitos podem ser de facto o que procuramos, mas acredito que dosear a perfeição pode ser a chave para controlar a história que contamos!

      Obrigada por estares por cá - que bom que é saber disso! <3

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  2. Sinto-me como tu :). Também me perco nos regressos. Regressei à blogo em dezembro do ano passado, após uma pausa de 2 meses por causa do estágio de integração, e ainda agora sinto isso, que não tenho nada a acrescentar. Mas é a nossa insegurança a falar. Posso dizer que fico, genuinamente, muito feliz por regressares. A blogosfera precisa de bloggers como tu, imunes a posts patrocinados e a dinheiro, que escrevem mesmo com paixão.
    Quanto ao post, identifico-me tanto com o que a Inês disse acima. Não só a nivel de fotos, mas já me acontece abandonar posts e até livros por querer levá-los à perfeição.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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    1. Good to be back <3 acredito que sim, a verdade é que só nos lê quem quer, não é que estejamos a obrigar ninguém e o facto é que podemos sempre trazer algo de novo ao dia de alguém! E que bom que é ler as tuas palavras, obrigada! <3
      Aff sem dúvida! E às vezes esquecemo-nos que escolher a imperfeição é tão válido para passar a mensagem como se tentássemos que ficasse perfeito!

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