Fórum de Ideias | Graças ao Feminismo...


Temos voz.

Votamos, agimos e temos um papel activo na governação do país. O primeiro movimento sufragista organizado surgiu em 1897, com a União Nacional pelo Sufrágio Feminino, fundada por Millicent Fawcett no Reino Unido. A verdade é que esta é uma luta antiga: no berço da democracia, a Grécia antiga, era vedado o direito ao voto às mulheres.

Em 1911, em Portugal, Carolina Beatriz Ângelo aproveitou um buraco legislativo para votar: era a chefe de família, motivo pelo qual conseguiu fazê-lo. Imediatamente foi alterada a legislação, garantindo que apenas os homens chefes de família pudessem votar, uma acção que poderia ser estranha tendo em conta a proximidade esperada entre os movimentos republicano e feminista - a verdade é que o governo republicano tomou esta decisão devido à proximidade social entre o papel da mulher na sociedade e a sua associação à Igreja, da qual se queria demarcar. Em 1926 foi novamente admitida a possibilidade de as mulheres que fossem chefes de família pudessem votar, e na década de 30 surgiram várias alterações à legislação que abriram o direito de voto a algumas mulheres, por influência do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. No entanto, só em 1974 o direito ao voto se tornou universal.

Temos direito de escolha.

Podemos ser tudo o que quisermos - com mais ou menos luta, é verdade, mas conseguimos. Mães, empresárias, engenheiras, astronautas, professoras, mecânicas, desportistas, cientistas, operárias, soldados, políticas, tudo isto ou outra coisa qualquer. A verdade é que cada vez há menos "áreas de homem" - e provamos que podemos estar em pé de igualdade em tudo o que nos propomos fazer.

O nosso género não condiciona o nosso mérito.

É ilegal a descriminação no trabalho por questões de género. Sabemos que ela ainda existe, mas felizmente, em Portugal, tem vindo a diminuir - salários, progressão na carreira, licenças de maternidade, protecção da dignidade e respeito. As desigualdades existem, mas temos o direito e o dever de lutar contra elas, seja porque recebemos menos do que um homem com as mesmas funções ou porque nos perguntaram se planeamos ter filhos durante uma entrevista.

Somos donas do nosso corpo.

A decisão é nossa. Saúde reprodutiva, direito ao aborto medicamente assistido - porque se assim não fosse, este continuaria a existir, e com muito mais riscos -, direito a contraceptivos, protecção legal em casos de violência doméstica ou outra, física, psicológica ou sexual. Somos seres humanos completos, incluindo corpo, mente, pensamento e sim, sexualidade.

No entanto...

Muito já foi conquistado, mas há ainda muito por fazer. Se no Mundo ocidental vemos grande parte dos nossos direitos como dado garantido, e se lutamos hoje por questões que afectam a nossa qualidade de vida, mas que podem ser apontadas e corrigidas, a verdade é que ainda há muitas mulheres no Mundo que sofrem de desigualdades profundas que agridem os mais básicos dos seus direitos: o seu direito à Vida e à Dignidade. Há um ano atrás falei-vos disso, e continua a ser extremamente importante termos noção de que estamos muito longe da igualdade.

Não nos podemos esquecer que há dirigentes mundiais a utilizar as mulheres como troféus vazios de vontade própria, políticos a afirmar no Parlamento Europeu que a mulher é inferior ao homem, e países que acabaram de descriminalizar a violência doméstica contra as mulheres, tudo isto no Mundo dito "desenvolvido". Nada do que temos é garantido. O Mundo muda, e nem sempre é para melhor, por isso devemos dar bom uso à nossa Voz e garantir que continuamos a luta que nos trouxe até onde estamos hoje.

Feliz Dia da Mulher!

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14 comentários :

  1. Clap clap clap, não tirava nem acrescentava nada!
Mas sabes o que me revolta mais nisto? Toda a evolução na ciência e sabedoria que não aconteceu simplesmente porque o homem não deixava a mulher estudar e saber, tudo o que fosse sério era vedado à mulher, que só servia para cuidar dos filhos e da casa, a imposição da igreja na caça às bruxas, que no fundo apenas praticavam ciência com conhecimento das ervas… Deixa-me triste imaginar o avanço tecnológico e psicológico que hoje poderia-mos ter e não temos, deixa-me ainda mais revoltada saber que a mulher só se conseguiu igualar (minimamente) ao homem há menos de 100 anos, que as nossas avós passaram por isso, que as nossas mães sofreram na pele ainda, e nós que somos a primeira geração com uma “liberdade” total ainda temos medo de sair à rua sozinhas à noite e ainda sentimos uma mania de superioridade de grande parte dos rapazes mesmo da nossa idade.
Não consigo perceber de onde vem esta noção, somos feitos do mesmo, nascemos uns do outro, somos todos iguais e inocentes à nascença…

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    1. Grande ponto que abordas aí, Jael: nem é bom pensar em como poderíamos estar mais "à frente" se não fosse pela misoginia e preconceito ridículo, que durou tantos séculos.

      Concordo contigo, somos a primeira geração que tem liberdade, como dizes, e felizmente temos voz para lutar contra aquilo que ainda vemos como desigualdades. Ainda falta tanto. E temos que usar o nosso privilégio de mulheres jovens, saudáveis e ocidentais para chamar a atenção a tudo o que ainda está por melhorar. E como responsáveis pelas próximas gerações, cabe-nos a nós o trabalho de criar seres humanos iguais, sejam eles homens, mulheres, ou tudo o que há pelo meio!

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  2. Parabéns por este post Jiji <3

    Feliz Dia da Mulher!

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  3. O post está mesmo mesmo bom!! Feliz dia da mulher!!

    Inspiring

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  4. É isto tudo e tanto mais. É história mas história que continua a ser tão real é tão importante nos dias que correm, porque ao contrário de nós que temos consciência desta luta ainda existente, muitas mulheres deitam-se "à sombra da bananeira" dos direitos que as suas mães, avós e familiares femininas adquiriram a ferros no último século.

    Só a progressão da mentalidade feminina , da possibilidade de estudar e entender mais profundamente as causas e efeitos fará com que mais mulheres entendam a necessidade de afirmarem as suas convicções e reivindicarem os seus direitos, a igualdade entre pares.

    O caminho é longo e não está nem meio cimentando mas temos de continuar, se não for por nós que seja pelas nossas filhas, netas e as outras mulheres espalhadas pelo mundo.

    Que seja também pelos homens para que os mesmos se sintam no direito de se sentirem seguros quando são vítimas de violência, ou que deixem o medo de lado quando precisam de expressar as suas emoções.

    Sei que é dia da mulher mas no fundo é o dia da igualdade entre géneros e isso sim, é pelo que devemos lutar.

    Continua assim, Jiji, és maravilhosa e forte!

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    1. Exacto, a questão importante é mesmo não nos esquecermos do que já foi conquistado. Porque ao tomarmos as coisas como garantidas acabamos por correr o risco de as perder!

      E tu, minha Jo <3

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  5. Excelente post! Está mesmo bom!
    Hoje somos aquilo que somos, graças às lutas que sempre existiu.

    Beijinhos,
    http://www.pirilamposemarte.com/

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  6. Já tanto caminho que foi percorrido e ainda há tanta coisa a fazer!
    Enquanto não existir igualdade de género, espero que o Dia da Mulher continue a relembrar porque é que ainda é preciso existir um dia da Mulher!!
    Beijinhos *

    http://chique-e-geek.blogs.sapo.pt/

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  7. O teu "No entanto" é tudo o que é importante reter neste texto!

    Parabéns pela escrita :)

    http://anetadaluisa.blogs.sapo.pt/

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